quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Ressaca

Como um filme clichê, a amizade delas se deu instantaneamente. Sem qualquer grilo com a diferença de idade, passaram a fazer tudo juntas: compras, jantares, aniversários. Seria presunçoso dizer que tinham visões políticas parecidas, assim como atuações profissionais e sexuais. A identificação era inevitável.
A primeira vez que saíram em companhia de outros, eles perceberam a tensão que as próprias não notavam, ou, por precaução, ignoravam.  O vinho as consumia a medida que o volume da música aumentava no local. Ela incrível não é? Dizia uma delas para um amigo, que balançava a cabeça em resposta, soltando uma risada sem graça. Enquanto isso, a outra dançava dispersa.
                Primeiro clichê: A noite é uma criança. Logo os amigos foram embora, exaustos pelo álcool. Por que não vamos para outro lugar? Foram para um bar famoso, lá perto, conhecido por seus frequentadores revolucionários. Não demorou para que um beijo acontecesse, e depois muitos outro vieram em sequência. Isso é tão errado. A outra discordava. Juras de amor foram proferidas, junto com confissões e o reconhecimento de uma conexão rara: Já tinha ouvido isso antes... Não tardou que fossem embora, esmagadas pelas emoções daqueles corações abertos pela chave do álcool. Acho que você vai ser arrepender de tudo amanhã, espero que não.
                Acordou agitada pela ansiedade dessa resposta que os muitos drinks não foram capazes de apagar de sua memória. Tomou coragem. Ela negou o arrependimento. Apesar disso, a frieza e a indiferença se instalaram em sua alma. Eu disse várias besteiras ontem, nem lembro direito. Será verdade? Tudo não passará de uma empolgação momentânea da noite? Segundo clichê.
                Este mesmo evento voltou a ocorrer. Dessa vez com ela sentada em seu colo e beijando-a como se não houvesse amanhã. Tão previsível, as juras de amor vieram, menos intensas e mais confusas. Resultando de novo em uma noite que fora completamente esquecida por ela. Cansou-se.

                Será que a alma dela estava tão ferida que preferia ignorar o carinho que ainda possuía? Encarar o peso de palavras ditas sobre o álcool e os beijos dados na noite era demasiado pesado para um coração já contaminado pelos monstros do passado. Eu não lembro como é se apaixonar... e você? Terceiro clichê.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Moderninha

Caro leitor, sabes por que existem tantos sites e aplicativos de relacionamentos? Vou lhe contar: porque ninguém "banca". O que quero dizer com isso não envolve nenhum clichê Baumaniano sobre a modernidade líquida e os relacionamentos descartáveis, pelo menos não diretamente. Falo sobre o fato de que chegado os 25-35 anos, nenhum jovem acredita que realmente vale a pena se arriscar em uma relação amorosa. Todos traumatizados demais com os pé-na-bunda anteriores, com as traições ou com os amores não correspondidos. Esses meios tecnológicos de relacionamento facilitam uma relação que quer tudo menos sentimentos.
Este cenário, então, dá margem para duas possibilidades: o envolvimento casual ou a friend zone. Se alguma dessas evolui, a relação acontece. Contudo, elas não deixam de ser um espécie de limbo, afinal, vivemos numa época em que ganha aquele que finge sentir menos, que demora mais pra responder, que se expõe menos. Tanto a friend zone quanto o envolvimento casual são testes e aquele que sentir primeiro e não conseguir esconder, perde.
Na minha opinião, são jogos chatos demais para serem jogados e mesmo os jogando, prefiro ser a perdedora. Você dirá que eu não me ferrei o suficiente ainda, por isso penso assim. Pode ser, mas desejo que meu pensamento nunca mude. Desejo que o que seja dito numa noite, sobre o efeito do álcool ou não, seja a verdade mantida pela manhã.
Gostaria mesmo que corações se unissem por um olhar, por uma corda de violão ou por um abraço apertado ao invés de um match no tinder que resultará em conversas clichês e sexo casual.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

The second

As almas devastadas sentem
Este peito amaldiçoado.
Preso no trem desgovernado
Deserdada por si mesma,
minha invisibilidade mente

Onde está a conexão?
os erros e sinais
quero te escutar de novo
Costurar teu infinito
e Cortar todas as linhas

Será que você nota
os lábios não ditos?
O implorar pútrido?
O pertencer dolorido?

Será que você nota
o toque tremido?
a palavra não pronunciada?
os passos que nunca terminam?

Talvez uma noite

domingo, 31 de agosto de 2014

Negação

Teu corpo em negação ao meu
É frio desesperado, inundado.
Escuta lembranças corroendo
Suspeita de minha perdição
Não quebra silencio inegável

Teu corpor em negação ao meu

É sonho calado, inalcançado
Queima a ti oculto remoendo.
Apresenta a mim, a escuridão
Não cai em medo impensável.

Teu corpo em negação ao meu

é amor, amado não transitado.
Acolhe-me a ausência sofrendo
Rejeita tua e minha destruição.
Não chama paixão inconsolável.

domingo, 17 de agosto de 2014

Don't be afraid

Lembro-me do começo e das noites não dormidas pensando naquela ansiedade estranha de talvez te encontrar na manhã do dia seguinte. Lembro-me das conversas e de pensar que minha alma finalmente voltava ao corpo por suas palavras inocentes. Como você poderia saber que meu coração ja era teu desde o primeiro sorriso? Foi inevitável. Culpa ou não, você no meu colo me apontando as constelações me fez pensar que a culpa só poderia ser delas, testemunhas de nós. Sabíamos, dentro de nós sabíamos que aquilo não pararia e que nossa essência amaria tanto que se machucaria por diversas e diversas vezes para que não doesse no outro. Se fosse o caso de morrer, morreria a mulher mais feliz do mundo e ao chegar lá em cima agradeceria o criador por tamanha sorte: ter te conhecido. Beijar-lhe, enlouquecer, gargalhar e chorar junto ao ti é o que antes me parecia apenas sonho e tornou-se o meu paraíso-real.
Tomamos decisões, caímos e hoje tivemos um dia díficil, brigamos. Talvez brigaremos mais, talvez doa mais e talvez os medo e as inseguranças nos dominem e façam um enlouquecer o outro... Mas quero ser enlouquecida por ti apenas, meu paraíso. Quero estar tricotando numa cadeira e olhar pra você ao meu lado, ambos velhinhos. Quero ver seu sorriso feliz e cansado e eu suspirarei e te olharei feliz por ter construído uma vida ao seu lado.
Não será fácil minha criança, mas lhe escrevo hoje para que no futuro, quando você ler isto, você se lembre que superamos as primeiras brigas e os primeiros dias dificeis e que não importa quantos teremos pela frente, ao teu lado não temo nada.

"Pegue meu amor por ti, divida por todos os meus dias e pela eternidade, ainda sobrará"



Let me know.


Avise-me quando fundir a realidade com a ilusão

Avise-me quando o corroer do vermelho acabar
Avise-me quando não ouvir mais a palavra perdão
Avise-me quando decidir deixar de me segurar

Avise-me quando não enlouquecer em tua ausência

Avise-me quando aniquilar essa tóxica espera
Avise-me quando passar a odiar a transparência
Avise-me quando eu virar "tu" e não mais "ela"

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Pedaço infinito

Como se tudo fosse líquido quente transbordando. Seus sonhos e ilusões não lhe serviam mais para sobreviver, mas para aquecer o gelado de sua estrutura. Cabe dizer que as noites não eram mais tão frias, contidas nos passos-palavras de cada andar do outro. Chocava-lhe pela angúsita: o lençol ao chão, seu desalento. O travesseiro sem cheiro. Não existe o seu suspiro tranquilo de sono tadio. Não existe o seu olhar ao encontrar o meu no acordar. Existe o dia. Existe a noite. Existe a certeza inatural de mover-se por uma força pura que não pode ser parada.

Cai-se em mim esse infinito de borboletas suas. Sem fim.